Se
formos pesquisar sobre “dor fantasma”, vamos encontrar tantas coisas, que podem
talvez nos confundir, pois há muitas contradições, informações desencontradas e
desatualizadas, e por incrível que pareça, até coisas absurdas. Há bastante
tempo vinha querendo postar aqui no blog, um artigo sobre esse assunto e foi
quando encontrei no site “passo firme”, uma abordagem do tema de forma clara e
atual. Claro que o assunto talvez seja um pouco mais complexo e profundo, mas
acho que esta leitura é um excelente começo para entendermos melhor sobre essa
dor e sensações que tanto nos incomodam e nos intrigam. Boa leitura!
“DOR
FANTASMA, SENSAÇÕES FANTASMA E MEMBRO FANTASMA” – O QUE SÃO E COMO ACONTECEM.
Entre as pessoas amputadas
fala-se muito em “dor fantasma”, “sensação fantasma” e “membro fantasma”.
Tratam-se dos mesmos fenômenos ou cada manifestação possui suas especificidades
e formas de tratamento? Eles são benéficos ou prejudiciais no processo de
reabilitação do amputado? E como a Terapia Ocupacional reconhece e trata estes
transtornos, interferindo positivamente no processo de reabilitação da pessoa
amputada?
A dor fantasma, as
sensações fantasmas e o membro fantasma são sintomas geralmente presentes após
a perda parcial ou total de um segmento do corpo.
A dor fantasma pode
aparecer no pós-operatório imediato, durante o período da internação, sendo
esta referente ao trauma cirúrgico, ocorrendo em 80% dos casos. Também decorre
de um processo inflamatório, infeccioso, por gangrena ou alterações
circulatória ou venosa, anteriores a amputação, que causaram muita dor ao
membro.
A sensação da dor fantasma
pode se assemelhar com a dor sentida no membro antes da amputação. Geralmente
há um registro da memória da dor e esta pode permanecer por algum tempo ou
desaparecer completamente. É comum que reapareça quando existe algum
acontecimento que lembre a época do trauma ou da perda física.
O membro fantasma pode ser
definido como uma experiência de uma pessoa possuir um membro ausente que se
comporta similarmente ao membro real.
Já a sensação do membro
fantasma é uma experiência vivida pela maioria dos amputados. Com o tratamento
tende a desaparecer, levando em média de três a quatro meses para a remissão
(abrandamento ou diminuição) dos sintomas. Em algumas situações, porém, a
sensação do membro fantasma pode persistir por longa data.
Relacionam-se ao membro
ausente vários tipos de sensações (Rohlfs, Zazá, 2000, apud Demidoff et al.,
2007) e as principais delas são descritas como: dor fantasma, dormência,
queimação, câimbras, pontadas, ilusão vivida do movimento ou a sensação da
existência do
membro fantasma. (Giraux e
Sirigu, 2003 apud Demidoff et al., 2007) Estas sensações fazem parte da
fisiologia das células cerebrais que ainda estão se reestruturando nas novas
conexões no cérebro.
COMO
A TERAPIA OCUPACIONAL RECONHECE E TRATA ESTES TRANSTORNOS COMUNS À VIDA DA
PESSOA AMPUTADA.
Como recursos de
reabilitação são utilizados a eletroterapia, termoterapia, hridroterapia, barras
paralelas, cinesioterapia, entre outras.
O que temos identificado
durante o atendimento na Terapia Ocupacional com evidências de um bom
prognóstico ocupacional demanda além dos componentes físicos, o componente
subjetivo, ou seja, como a pessoa amputada reage e enfrenta as novas situações
de vida. O tratamento na Terapia Ocupacional dependerá da avaliação e dos
objetivos específicos para cada pessoa na modalidade de participação grupal.
O entendimento e a
inteligência emocional são fatores fundamentais e fazem toda a diferença para
compreensão do amputado dos fatos que antecederam o trauma. O terapeuta
ocupacional deve orientá-lo quanto aos procedimentos técnicos que foram
realizados e os que podem ainda ser necessários como uma nova avaliação médico
cirúrgica em casos como excesso de peles no coto ou algum desconforto, buscando
recursos sempre que precisos na equipe multidisciplinar.
As atividades dirigidas e
intencionais, através do aprendizado de habilidades contra lateral ao membro
amputado e muitas vezes não correspondente ao lado dominante estimulam e
permitem o aparecimento de novas redes de conexões de células nervosas. As
atividades terapêuticas ocupacionais têm essa propriedade e especificidade de
proporcionarem estes mecanismos. Um novo esquema do corpo estará sendo
construído pelos procedimentos terapêuticos tendo como objetivos gerais,
prevenir efeitos nocioceptivos no membro amputado e tratá-lo promovendo o
máximo de sua independência.
Na técnica do espelho de
de Ramachandran, o reflexo do membro intacto engana o cérebro para que ele
enxergue dois membros saudáveis. Isso permite que ele volte a enviar comandos
para esse membro, para que ele se “mexa”, aliviando a dor.
As atividades da vida
diária fazem parte do tratamento na Terapia ocupacional assim como as
adaptações necessárias no coto para a alimentação, vestuário, higiene pessoal,
cuidados com a cicatriz, enfaixamento e modelagem do coto, cinesioatividade que
propiciem as contrações isométricas, relaxante produzido pelo calor úmido no
coto, uso de pré-prótese e da prótese com a utilização da técnica do espelho
para o tratamento da dor e da imagem corporal e a troca da lateralidade sempre
que precisa através do treinamento técnico para as habilidades manuais
(coordenação motora fina e de aprendizado motor).
É através do planejamento
e organização de etapas terapêuticas, ou seja, desde o tratamento do coto até o
treinamento da prótese, que serão contempladas no programa de reabilitação e de
protetização onde se pretende que a pessoa amputada tome “posse” do seu corpo e
conquiste com propriedade sua independência e autonomia.
Observamos que para alguns
amputados existe uma determinação em dizer para eles mesmos que sua perna ou
seu braço não estão mais ali. Sabiamente movimentam o coto, fazem massagem ou
contraem a musculatura residual do coto como recurso para eliminação das
sensações e do membro fantasma. Um simples contato manual já ajuda neste
desconforto.
Nas situações reflexas, de
se apoiar na perna ou tentar pegar algo que caiu ou na realização de um jogo, a
sensação do membro fantasma pode voltar porque está na memória funcional ainda
presente. Dando um exemplo: na quadra de esporte um amputado de membro inferior
procura onde está seu outro pé de sapato. Para alguns, esta sensação permanece
e, se não incomodar, pode facilitar a coordenação da marcha com a prótese, da
marcha com o andador ou com as muletas canadenses, assim como no uso de uma
prótese mioelétrica ou biônica de membros superiores.
Quando solicitamos que
pense no membro perdido ao dar o passo, colocando “o calcanhar” no início da
marcha com a prótese ou sem ela, “andar como se estivesse com a sua perna”, tem
possibilitado um caminhar mais leve e coordenado. Dessa forma promove menor
esforço físico e menor consumo energético para a locomoção. Pensar nos alcances
e padrões manuais também favorece o mecanismo de acionamento dos eletrodos e a
coordenação das próteses de membros superiores.
A
INFLUÊNCIA DO FATOR EMOCIONAL NO PROCESSO DE REABILITAÇÃO.
Como dissemos no início, a
dor tem uma memória e sofre grande influência do fator emocional como nos
estados de depressão, ansiedade, etc. e pela proximidade das áreas cerebrais.
Pesquisadores têm investigado o modo como estes estados alteram ou estimulam o
retorno da dor fantasma. Nesta fase de luto, deve-se dar uma atenção especial
ao tratamento.
Cabe a observação que
ocorre um luto pela perda daquele segmento e nesta fase deve se ter uma atenção
especial no tratamento. Tem sido também relacionado que em datas próximas ao
evento do acidente ou da doença que levou a amputação com o aparecimento das
sensações e de transtornos emocionais, com relatos dos amputados de sentirem
novamente dor, câimbras, tristeza, depressão, mal estar e alteração da pressão
arterial.
No nosso dia a dia de
trabalho como terapeutas ocupacionais, é comum que no momento de receber a
prótese, mesmo passando pelas provas na confecção e modelagem para a mesma,
ainda não tenha sido superado o conflito da amputação e comumente há a
lembrança do trauma novamente, acontecendo um novo luto.
O processo é longo para
absorver a tecnologia assistiva, fazer as adaptações pessoais e para o ambiente
que ajudarão na realização das atividades de vida diária e Instrumentais,
produtivas e de lazer, incorporando a prótese ao seu cotidiano, para que ela
faça parte dos seus movimentos e ações de maneira natural.
O conteúdo deste
artigo foi cedido gentilmente pelo site passo firme http://passofirme.wordpress.com
Por Marilda Coelho Pires -
Terapeuta Ocupacional, do Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia
(Into), e Simone Bastos, do Conselho Regional de Fisioterapia e Terapia
Ocupacional.
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