Cheguei no Hospital Vita no dia 11/05, a internação foi rápida e no mesmo dia conhecei o Dr. Claus Dietrich Seyboth, meu médico até hoje.
Mas antes quero contar uma história bastante interessante; alguns vão achar que não passa de uma coincidência, eu já acho que é a mão de Deus dando uma forcinha.
Poucos dias antes da minha vinda para o Hospital Vita, os rumores sobre uma possível amputação eram grandes. Naquela época, essa possibilidade me apavorava (hoje nem tanto), tudo era muito incerto, não sabia se ia ou não conseguir alguém que fizesse a cirurgia que precisava.
O fato é que meu irmão, logo que ficou sabendo da possibilidade da amputação, começou uma pesquisa na internet e um dos primeiros resultados, foi um site que trazia uma matéria sobre um médico, Dr. Richard Luzzi, que entre outras coisas, dizia se orgulhar de sua equipe, por fazer sete anos que não faziam nenhuma amputação. Infelizmente meu irmão não guardou o endereço eletrônico dessa matéria, mas encontrei outros, que falam sobre o Dr. Richard e a técnica de reconstrução óssea (inclusive, estatísticas sobre os acidentes de moto):
No dia seguinte, assim que recebi a visita do Dr. Rafael, comentei sobre o telefonema do meu irmão, sobre o Dr. Richard e o Hospital Vita; e ele meu deu a noticia então, que já tinha acertado minha transferência para o Hospital Vita e que conhecia o Dr. Richard e também o Dr. Claus, que tinham sido seus mestres na faculdade. Pelo tamanho da cidade de Curitiba, já imaginou a quantidade de médicos ortopedistas que existem lá? Coincidência?
Bem, de cara gostei do Hospital, talvez porque, inicialmente ele tenha sido um Hotel, depois foi vendido ao Hospital, então não tem aquela cara de hospital, lembra mais um spa ou casa de repouso; enfim, fiquei internado os meses de maio, junho, julho e agosto.
Vista da entrada do Hospital.
Vista da sacada do quarto.
Os debridamentos eram feitos em um curto intervalo de tempo e depois de pouco menos de um mês, foi a primeira cirurgia, a qual durou aproximadamente dez horas. A área escolhida para ser a área doadora, foi a região dorsal, como pode ser visto na foto abaixo. Foi retirado uma faixa de aproximadamente 40x8cm com músculo e vasos. Olha o tamanho do estrago!
Logo após a cirurgia, fui diretamente para UTI e lá permaneci por onze dias. Foram tantos momentos terríveis dentro do hospital, que não sei dizer ao certo, se a fase UTI, foi a pior, mas com certeza está entre as piores. No início o problema todo eram as dores horríveis que chegaram a um ponto de intolerância, que foi preciso colocar uma bomba que injeta morfina automaticamente. Não achava posição na cama, passei uns três dias sem comer.
Passei muito estresse com a equipe de enfermagem; entendo que em uma UTI, tudo é muito corrido, mas eu apertava a campainha e às vezes eles vinham depois de meia hora, quarenta minutos. Numa ocasião, eu estava me contorcendo de tanta dor e gemendo alto e, veja se tem cabimento, entra uma médica e me manda calar a boca, dizendo que é um absurdo eu estar gritando daquela forma e que estava incomodando os outros. Olha, a sorte dela naquela hora foi que além de ser educado, também não tinha nada por perto para arremessar na infeliz.
Só aqui, estando tanto tempo internado, descobri uma coisa bastante óbvia, em todo lugar, em todo segmento de trabalho, sempre vai haver gente boa e gente ruim, gente que ama o que faz e gente que detesta. Aqui, encontrei médicos, funcionários da enfermagem, da limpeza, da copa, do atendimento, que são simplesmente gente. Por outro lado, tive o desprazer de encontrar umas pessoas que não tenho coragem de chamar de bicho, porque seria uma ofensa aos bichos. Sabe aquele tipo que não é nascido e sim cuspido, então, esse tipo de ser, querendo ou não, acabamos encontrando em todos os lugares.
Mas da fase da UTI, teve um episódio que foi sem dúvida o pior que pude passar. Eu, bem ou mal, estava me alimentando e um dos grandes efeitos colaterais da morfina, é que ela faz o intestino praticamente não trabalhar. Era, é claro, para uma enfermeira estar me perguntando sempre, se estava evacuando ou não. Ninguém perguntou coisa alguma, e eu naquela situação de dor e muito desconforto, fui deixando os dias correrem e foi lá pelo décimo dia que o "o bicho pegou". Logo pela manhã, depois do café, começou a me dar uma cólica terrível, aí chamei um enfermeiro, que me levou até o banheiro. Sentei, com muito sacrifício e dores, no vaso e lá fiquei. Depois de meia hora, nada, quarenta minutos e nada, daí comecei a suar frio e a pressão caiu lá embaixo, quase desmaiei.
Os enfermeiros entraram bem a tempo de não me deixar cair no chão. Me levaram novamente para cama, e eu, lógico, gritava de dor, de cólica. Resultado: um fecaloma fecal! o que é isso? Um pedra de fezes. Daí vem um médico, um daqueles que mencionei acima, o "cuspido", e disse que tinha que tirar com a mão. Colocou uma luva, lubrificante e foi metendo o dedo no meu ânus.
Eu tinha feito tanta força sentado no vaso, que estava todo dolorido e vem esse infeliz e vai metendo a mão. Claro, reagi na hora, não por preconceito nem nada, mas porque a dor era quase a ponto de desmaiar. Acabei, involuntariamente ,chutando o médico com o pé e ele ficou bravo.
Só aí que ele resolveu dialogar. Me disse que se eu não estava aguentando ia ter que me sedar. Mas o que essa criatura estava pensando? Que eu ia dar risada enquanto ele quase que literalmente me estuprava? Que médico é esse que não me sedou logo de cara?
A sedação foi algo próximo de dez minutos. Quando acordei, fiquei sabendo que o médico não havia conseguido tirar o fecaloma e iam por uma sonda. Colocaram a sonda e no fim do dia fui finalmente transferido para uma quarto. Nossa que alívio, não ter que escutar toda aquela parafernália de equipamentos buzinando no ouvido a noite inteira e gente gemendo, tossindo e também morrendo.
Fui para o quarto com a sonda de glicerina (acho que era isso), via retal, e lá pelas três horas da madrugada veio finalmente o meu alívio, só ai consegui dormir um profundo e merecido sono.