sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Prótese

A escolha da prótese

Muito bem, você é amputado, está em processo de reabilitação e chegou a hora de escolher a prótese. Como fazê-lo? 

Eu acho que dificilmente um amputado terá condição de, sozinho, sem nunca ter ao menos visto uma prótese, fazer uma escolha acertada de maneira consciente. O paciente, marinheiro de primeira viagem, deve procurar um médico de reabilitação que tenha, sabidamente, conhecimento para orientá-lo e fazer a sua prescrição protética. Mesmo o profissional experiente, dependendo do caso, pode ter alguma dúvida em relação a componentes e tipos de encaixe. O ideal é que o paciente receba a maior carga de informação possível e, baseado nisso e no custo dos componentes, ajudar o médico a fazer sua escolha. 

Esta situação é bem diferente da situação do amputado experiente, que já vem usando prótese há alguns anos e, ao optar por uma troca de aparelho por qualquer razão, tem bem delineado na mente o aparelho que melhor lhe convém. Ou seja: se você é um amputado recente, procure um médico que possa ajudá-lo a escolher o aparelho mais adequado para o seu caso.

O tipo de pé protético, joelho mecânico, o encaixe a ser usado, tudo isso pode variar muito, dependendo da causa da amputação, da idade do paciente, do nível de amputação, e outros critérios mais.

O coto de amputação precisa ser preparado cuidadosamente antes de ser moldado para a feitura do encaixe. Este preparo inclui, além dos exercícios para recuperar e manter a função das articulações, o enfaixamento do coto com faixa elástica até que a sua forma se estabilize. Ainda assim, com o uso da prótese, o coto deve mudar a sua forma ainda mais, necessitando ajustes frequentes e até mesmo a troca do encaixe protético depois de alguns meses. Para prevenir problemas como dor, ferimentos, calosidades, pistonagem excessiva da prótese, etc, são necessárias visitas constantes ao centro de reabilitação, para que os problemas sejam detectados e corrigidos o mais rápido possível, evitando, desta forma, conseqüências mais graves.

Nenhuma prótese pode ser entregue acabada sem que o paciente tenha sido treinado exaustivamente no seu uso, no ambiente adequado, até que o encaixe esteja confortável e o alinhamento dinâmico tenha sido feito. Isto vai ocorrer à medida que o paciente conseguir descarregar melhor o peso do corpo sobre o aparelho. 

Também o encaixe da prótese, caso seja necessário, poderá ser trocado a um custo muito menor, enquanto ela não estiver acabada. Um aparelho protético só estará bem ajustado depois de testado, treinado e alinhado durante o uso pelo paciente. Não existe outra possibilidade. Qualquer proposta diferente deve ser entendida como uma tentativa de iludir. Tirar "medida", fazer uma ou duas provas e depois chegar com uma prótese acabada, dizendo que a dor e os ferimentos são normais e que no fim tudo se ajusta como numa dentadura, é mentira deslavada, e quem faz isso está agindo de má fé.

O amputado recente é presa fácil de indivíduos inescrupulosos por não conhecer o assunto, estar fragilizado e cheio de expectativas que muitas vezes não são reais. A melhor maneira de evitar estes danos é procurar um serviço de reabilitação reconhecido e ser tratado como paciente, nunca como freguês.


Dr. Marco Antonio Guedes de Souza Pinto

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Dr. Marco

Um pouco antes da minha amputação, comecei a me interessar por tudo que encontrava na internet sobre esse assunto e um dos primeiros nomes que encontrei foi o do Dr. Marco Guedes em uma entrevista com o Dr. Drauzio Varella. Desde então fiquei fã desse homem, pelo jeito simples e íntegro. E o mais importante, uma pessoa que passou pelo que hoje estamos passando. Então quem melhor que um médico protetizado, para nos entender?

DR. MARCO GUEDES E A REABILITAÇÃO DE AMPUTADOS
Trauma e especialização

O médico Marco Antônio Guedes, traumatologista e ortopedista, pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), perdeu a perna direita, após um acidente de moto no quinto ano de faculdade. Dedicado, hoje ele é um dos grandes especialistas que atende amputados no Brasil, por meio da clínica especializada Centro Marian Weiss, que gerencia em São Paulo. Nesse espaço, Guedes e sua equipe realizam atendimentos para reabilitação de amputados e cuidados com os pés de pessoas diabéticas.

O médico contou com o apoio da família para superar essa situação difícil. "Um dia minha esposa disse: "Estou indo jogar tênis, aluguei a quadra e não vou sozinha". Fui com ela. Nunca vou me esquecer da sensação boa que tive ao voltar suado e ver que eu era capaz de me exercitar novamente", conta. Por isso e durante todo atendimento clínico, ele entende e acha que o fator psicológico é essencial na busca pela reabilitação e felicidade no início da nova vida do amputado.

O especialista diz que é mais fácil se relacionar com os pacientes por ser também um amputado. Eles, ao saberem da experiência pessoal, se sentem muito mais seguros e confiantes. Passam a ter uma expectativa sobre o seu futuro bem mais otimista e real. O difícil é não ter muita ideia de como será a vida no futuro. Ao projetarem esta expectativa, sentem-se bem mais tranquilos.

No Brasil, as técnicas cirúrgicas têm avançado, mas para Guedes o mais importante não é somente o procedimento da mutilação e sim a construção de um novo órgão funcional, e isso só é possível se for bem construído. Se o paciente que perde um membro percebe que ainda poderá fazer alguns movimentos com o que ficou no lugar, o cirurgião pode criar um impacto positivo na trajetória de vida desta pessoa.

"Não podemos passar a culpar a amputação por tudo que nos acontece de ruim, mas sim encará-la como um desafio a ser superado".

 REVISTA SENTIDOS (EDIÇÃO 62)

Verdade!!!


Curitiba


terça-feira, 17 de setembro de 2013

Reabilitação

REABILITAÇÃO PRÉ E PÓS PROTETIZAÇÃO

OBJETIVO:
Prevenção de contraturas e problemas secundários;
Evitar complicações cardio-pulmonares e descondicionamento geral do corpo do paciente;
Redução da dor e edema;
Educar paciente e família e promover apoio psicológico.

TRATAMENTO:
Adequado e dirigido tratamento postural do paciente e do coto;
Diminuir e eliminar estados dolorosos;
Movimentação do coto e outro membro-24 a 48 h após  cirurgia;
Enfaixamento do coto - ataduras elásticas;
Conseguir um bom equilíbrio muscular;
Impedir e eliminar contraturas e deformidades secundárias;
Atividades físicas gerais: Troca de decúbitos, postura de pé e marcha;
Estimular a independência - AVDs;
Orientação ao paciente e familiar;
Técnica de Protetização imediata.

AVALIAÇÃO DO MEMBRO RESIDUAL
Exame Físico Funcional: membro residual;
Nível de Amputação;
Presença de Pontos dolorosos: neuroma, sensação e dor fantasma;
Força Muscular - Tônus - Trofismo;
Amplitude de Movimento - A.D.M.;
Formato do Coto - Condições da Pele - Partes Moles - Edema - Cicatrização;
Equilíbrio - Coordenação;
Locomoção - Trocas Posturais - A.V.D.;
Dominância - Amputação de MMSS;
Aspectos Psicológicos;
Exame físico do membro contra-lateral:  Portadores de vasculopatia e neuropatia;
Musculatura abdominal e paravertebral;
Perimetria;
Atividade Laborativa.

PRÉ-PROTETIZAÇÃO 
Reparação do coto para Protetização - Maturação;
Melhorar a capacidade física geral do paciente, habilitando-o para realizar todas as atividades sem o uso de prótese;
Preparação psicológica do paciente para a reabilitação com prótese.

COTO:
Cicatrização;
Dessensibilzação;
Arredondamento (enfaixamento em oito);
Protetização.

ENFAIXAMENTO EM OITO:
É uma técnica realizada após a remoção dos pontos cirúrgicos do coto de amputação. São utilizadas faixas elásticas compressivas. Traz benefícios como melhora da circulação, diminuição do edema (inchaço) na ponta do coto, além de mantê-lo protegido.

O enfaixamento do coto também se faz necessário para que haja uma adequada adaptação ao encaixe da prótese, que além de reduzir o edema, produz um formato cilíndrico desejado. A pressão deve ser maior de distal para proximal e realizado do tipo oito ou em espiral. Uma bandagem efetiva ficará sem pregas, enfatizando as voltas angulares, exercendo uma pressão distal, encorajando a extensão articular.

O início do enfaixamento deve ocorrer a partir da ponta do coto com pressão maior nesta região, o restante deve ser coberto em diagonais ao longo do coto, aliviando a pressão ou inicie com atadura pelo lado de dentro da coxa bem acima do joelho e desenrole-a de modo que esta seja colocada no sentido diagonal para baixo, pelo lado externo do coto, mantendo cerca de 2/3 da atadura esticada no máximo.

ATENÇÃO:
Se sentir formigamento ou pontos de grande pressão, a faixa pode estar muito apertada. Retire a faixa e refaça o enfaixamento.
Se sentir coceira ou observar pontos avermelhados no coto, observe se a faixa está limpa ou coloque por baixo uma meia fina.

O enfaixamento pode ser retirado de duas em duas horas. Nos primeiros momentos de adaptação, mantenha o coto sem faixa em um período mínimo de 15 minutos, e então refaça o enfaixamento.· Até se acostumar, não há necessidade de dormir com a faixa. Ao acordar, refaça o enfaixamento.·Todos os dias antes de enfaixar ou no momento de refazer o enfaixamento, observe a pele do seu coto e a região da cicatriz, observando presença de áreas avermelhadas ou feridas. 

INSPECIONE SEMPRE SEU COTO! Observe se as faixas estão limpas, principalmente, se você mora em um lugar muito quente. Lave as meias pelo menos uma vez por mês.· Inspecione se a costura que une as faixas está em contato direto com a pele. Coloque-a para cima, para que não aconteça lesão de pele. 

SE VOCÊ TEM DIMINUIÇÃO DE SENSIBILIDADE, CUIDADO COM AS COSTURAS DA FAIXA DIRETO NO COTO. 
Observe se o enfaixamento está correto quanto à pressão, que deve ter maior pressão distal (ponta do coto), aliviando a proximal.
1 - Inicie o enfaixamento da ponta do coto para cima;
2 - Suba em diagonais com pressão distal, aliviando para proximal;
3 - Desça em diagonal com pressão maior distal aliviando para proximal;
4 - Não volte sempre à ponta do coto. Vá construindo diagonais e aliviando a pressão;
5 - O enfaixamento deve terminar próximo a articulação acima da amputação, com pressão maior nesta área;

SUBIR E DESCER DEGRAUS COM PRÓTESE
Subir o degrau: Apoiar primeiro a perna sadia no degrau e depois o membro protetizado.
Descer o degrau: Apoiar primeiro o membro protetizado no degrau e depois a perna sadia.

RECURSOS TERAPÊUTICOS
Cinesioterapia;
Mecanoterapia;
Hidroterapia;
Eletroterapia;
Massoterapia;
Crioterapia;
Acupuntura;
Enfaixamento;
Dessensibilização;
Alongamento e Fortalecimento;
Trabalho Proprioceptivo;
Treino de Equilíbrio;
Dissociação de cinturas;
Uso de dispositivos auxiliares;
Atividades Recreacionais.

Objetivos da fisioterapia
O fisioterapeuta desempenha papel fundamental quanto à reeducação funcional, acompanhando o paciente em todos os estágios do programa de reabilitação, fazendo parte de equipe multidisciplinar, supervisionando e tratando desde o estágio pré e pós-operatório, na educação de mobilidade pré e pós-protética e, se necessário, em cuidados de manutenção das funções músculo- esqueléticas.

Nesse sentido, a presença do fisioterapeuta é importante no processo dinâmico, criativo, progressivo, educativo e, objetiva a restauração ótima do indivíduo, sua reintegração à família, comunidade e sociedade.

O tratamento deverá ser iniciado de forma precoce para recuperação funcional, com objetivo de acelerar a protetização e o retorno às atividades. De maneira específica, os objetivos visam cicatrização e redução de edema, manter ou aumentar força muscular de ambos os membros, transferências e cuidados no leito, prevenir contraturas articulares do membro residual ou qualquer membro, instrução nos cuidados do membro residual e deambulação com muletas.

São vários os fatores que devem ser considerados para prescrição adequada de tratamento, como presença de múltiplas afecções, independência funcional, autonomia, idade avançada, etiologia e nível de amputação, tempo de evolução entre amputação e início da reabilitação. Devido a tais fatores, é fundamental um trabalho multidisciplinar, que vise o desenvolvimento e participação ativa do paciente no seu tratamento.

Condutas terapêuticas
A fisioterapia deve ser realizada logo após a amputação, atuando no posicionamento correto no leito, dessensibilização do coto, exercícios ativo-assistidos, ativo-livres e isométricos, uso de bandagens, exercícios de propriocepção, trabalho do membro contralateral e membros superiores e treino de marcha. Tendo como objetivo a manutenção da amplitude de movimento, aumento de força muscular, equilíbrio e adaptações da marcha de acordo com a possibilidade do paciente, envolvendo orientação e condutas de prevenção e reabilitação.

Orientações gerais pós-operatório imediato
Para correto posicionamento do coto no leito, o indivíduo deve evitar comportamento de flexão de joelho, abdução e rotação externa de coxa, não usar travesseiro embaixo do coto e manter sempre os membros inferiores alinhados para evitar contraturas, que podem surgir em decorrência do enrijecimento fascial e do desequilíbrio muscular, de um reflexo protetor de retirada, da perda da estimulação plantar em extensão ou resultado de algum posicionamento inadequado.

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Cansado!

Estou realmente cansado! Agora, aos poucos, estou me adaptando e conhecendo minha nova realidade de "deficiente físico". Aos poucos começo a entender porque sempre vi e ouvi tantas reclamações e reivindicações da classe. Há sem dúvida um descaso total com nós, os deficiente físicos. Mas afinal, ninguém pede mais do que os próprios direitos sejam assegurados. Bah, pura ilusão!!!

Estou correndo atrás da papelada para conseguir a isenção de impostos para comprar um carro. Estou pra ver burocracia maior. Uma empresa diz que demora três, quatro meses, outra diz que me entrega em um mês, o preço varia de oitocentos à duzentos reais. Dei entrada no processo, fiz os exames médicos, depois tive que refazê-los e agora estou mais uma vez, aguardando.

Preciso urgentemente de uma carro. Aqui em Blumenau deve ter uma das tarifas mais caras de táxi do país. Tem coisas que só eu mesmo posso correr atrás e já teve vezes de sair de casa duas ou três vezes na semana e gastar mais de quinhentos reais de táxi. Um verdadeiro absurdo!

Na sexta,  fez um ano e cinco meses que ocorreu meu acidente e por coincidência, foi também uma sexta-feira treze. Ontem, dia quinze, fez três meses que amputei a perna. Ainda sinto algumas dores, mas nada parecido como no primeiro mês. Agora já faz pouco mais de um mês que não tomo remédio algum. No começo, tomava Neurontin para as dores fantasmas que me assombravam quase que literalmente, tomava dimorf, tilex, ultracet, mytedon, miosan, neosin, rivotril... e agora pelo menos estou livre desses remédios. Mas uma vez ou outra ainda tenho que tomar algo para dor, porque meu coto não está cicatrizado por completo, há uma lesão que cisma em não fechar. Há uma ferida bem encima, acredito que de um nervo, mas não entendo o porquê de tanta demora para a cicatrização, talvez por causa dos pontos, pois ontem, encontrei depois de três meses, a ponta de dois fios bem na lesão. Vai entender!!

Na sexta tive meu primeiro contato com uma ortopédica. Visitei a CERB - centro de excelência em reabilitação, aqui em Blumenau, antiga Ortopédica Catarinense. Fui muitíssimo bem atendido, é um pessoal extremamente atencioso,  mas infelizmente saí de lá sem o orçamento que fui buscar. Ficou uma dúvida para o protético, quanto ao tipo de minha amputação, pois ele achou que era uma desarticulação de joelho, devido ao formato do coto, que parece ainda ter a patela. Mas assim que cheguei em casa, peguei os Rxs que tirei no dia que levei um baita tombo no banheiro do hospital.

Confirmei que foi mesmo uma amputação transfemural. Vendo os Rxs, pude observar que o joelho estava aparentemente, intactos, me restando a dúvida do porquê não foi feita uma desarticulação de joelho. Mas com certeza meu médico deve ter me explicado na época, mas é muita informação para ser absorvida.

Quando levei o tombo, fazia dois dias que havia comprado as muletas e entrei no banheiro molhado e não deu outra, um terrível tombo, que me tirou até o fôlego. Mal conseguia respirar e a dor era terrível. Bati todo lado esquerdo do corpo no chão e não tinha dúvida que havia quebrado a bacia e talvez uma meia duzia de costelas. No dia seguinte, o médico levou pessoalmente os Rxs no meu quarto e me disse que estava tudo certo, nada quebrado. Uffa,que alívio!

Então, como o médico disse que estava tudo bem e eu por outro lado não entendo nada de Rx, nem abri o envelope, onde também sempre vinha com um laudo. Como o protético me pediu um Rx, só agora resolvi procurar esse envelope que estava comigo e abri-lo. Adivinha minha supresa: duas costelas fraturadas. Fiquei e ainda estou completamente indignado, pois na época fiquei duas semanas que nem conseguia andar com o andador de tanta dor e me queixei várias vezes para meu médico e ele disse que era luxação e logo ia passar, mas nunca disse que havia fraturado duas costelas. Isso tudo num hospital particular e renomado!! Sem mais comentários!!


domingo, 8 de setembro de 2013

Dor Fantasma.


Se formos pesquisar sobre “dor fantasma”, vamos encontrar tantas coisas, que podem talvez nos confundir, pois há muitas contradições, informações desencontradas e desatualizadas, e por incrível que pareça, até coisas absurdas. Há bastante tempo vinha querendo postar aqui no blog, um artigo sobre esse assunto e foi quando encontrei no site “passo firme”, uma abordagem do tema de forma clara e atual. Claro que o assunto talvez seja um pouco mais complexo e profundo, mas acho que esta leitura é um excelente começo para entendermos melhor sobre essa dor e sensações que tanto nos incomodam e nos intrigam. Boa leitura!
“DOR FANTASMA, SENSAÇÕES FANTASMA E MEMBRO FANTASMA” – O QUE SÃO E COMO ACONTECEM.
Entre as pessoas amputadas fala-se muito em “dor fantasma”, “sensação fantasma” e “membro fantasma”. Tratam-se dos mesmos fenômenos ou cada manifestação possui suas especificidades e formas de tratamento? Eles são benéficos ou prejudiciais no processo de reabilitação do amputado? E como a Terapia Ocupacional reconhece e trata estes transtornos, interferindo positivamente no processo de reabilitação da pessoa amputada?
A dor fantasma, as sensações fantasmas e o membro fantasma são sintomas geralmente presentes após a perda parcial ou total de um segmento do corpo.
A dor fantasma pode aparecer no pós-operatório imediato, durante o período da internação, sendo esta referente ao trauma cirúrgico, ocorrendo em 80% dos casos. Também decorre de um processo inflamatório, infeccioso, por gangrena ou alterações circulatória ou venosa, anteriores a amputação, que causaram muita dor ao membro.
A sensação da dor fantasma pode se assemelhar com a dor sentida no membro antes da amputação. Geralmente há um registro da memória da dor e esta pode permanecer por algum tempo ou desaparecer completamente. É comum que reapareça quando existe algum acontecimento que lembre a época do trauma ou da perda física.
O membro fantasma pode ser definido como uma experiência de uma pessoa possuir um membro ausente que se comporta similarmente ao membro real.
Já a sensação do membro fantasma é uma experiência vivida pela maioria dos amputados. Com o tratamento tende a desaparecer, levando em média de três a quatro meses para a remissão (abrandamento ou diminuição) dos sintomas. Em algumas situações, porém, a sensação do membro fantasma pode persistir por longa data.
Relacionam-se ao membro ausente vários tipos de sensações (Rohlfs, Zazá, 2000, apud Demidoff et al., 2007) e as principais delas são descritas como: dor fantasma, dormência, queimação, câimbras, pontadas, ilusão vivida do movimento ou a sensação da existência do
membro fantasma. (Giraux e Sirigu, 2003 apud Demidoff et al., 2007) Estas sensações fazem parte da fisiologia das células cerebrais que ainda estão se reestruturando nas novas conexões no cérebro.

COMO A TERAPIA OCUPACIONAL RECONHECE E TRATA ESTES TRANSTORNOS COMUNS À VIDA DA PESSOA AMPUTADA.
Como recursos de reabilitação são utilizados a eletroterapia, termoterapia, hridroterapia, barras paralelas, cinesioterapia, entre outras.
O que temos identificado durante o atendimento na Terapia Ocupacional com evidências de um bom prognóstico ocupacional demanda além dos componentes físicos, o componente subjetivo, ou seja, como a pessoa amputada reage e enfrenta as novas situações de vida. O tratamento na Terapia Ocupacional dependerá da avaliação e dos objetivos específicos para cada pessoa na modalidade de participação grupal.
O entendimento e a inteligência emocional são fatores fundamentais e fazem toda a diferença para compreensão do amputado dos fatos que antecederam o trauma. O terapeuta ocupacional deve orientá-lo quanto aos procedimentos técnicos que foram realizados e os que podem ainda ser necessários como uma nova avaliação médico cirúrgica em casos como excesso de peles no coto ou algum desconforto, buscando recursos sempre que precisos na equipe multidisciplinar.
As atividades dirigidas e intencionais, através do aprendizado de habilidades contra lateral ao membro amputado e muitas vezes não correspondente ao lado dominante estimulam e permitem o aparecimento de novas redes de conexões de células nervosas. As atividades terapêuticas ocupacionais têm essa propriedade e especificidade de proporcionarem estes mecanismos. Um novo esquema do corpo estará sendo construído pelos procedimentos terapêuticos tendo como objetivos gerais, prevenir efeitos nocioceptivos no membro amputado e tratá-lo promovendo o máximo de sua independência.
Na técnica do espelho de de Ramachandran, o reflexo do membro intacto engana o cérebro para que ele enxergue dois membros saudáveis. Isso permite que ele volte a enviar comandos para esse membro, para que ele se “mexa”, aliviando a dor.
As atividades da vida diária fazem parte do tratamento na Terapia ocupacional assim como as adaptações necessárias no coto para a alimentação, vestuário, higiene pessoal, cuidados com a cicatriz, enfaixamento e modelagem do coto, cinesioatividade que propiciem as contrações isométricas, relaxante produzido pelo calor úmido no coto, uso de pré-prótese e da prótese com a utilização da técnica do espelho para o tratamento da dor e da imagem corporal e a troca da lateralidade sempre que precisa através do treinamento técnico para as habilidades manuais (coordenação motora fina e de aprendizado motor).
É através do planejamento e organização de etapas terapêuticas, ou seja, desde o tratamento do coto até o treinamento da prótese, que serão contempladas no programa de reabilitação e de protetização onde se pretende que a pessoa amputada tome “posse” do seu corpo e conquiste com propriedade sua independência e autonomia.
Observamos que para alguns amputados existe uma determinação em dizer para eles mesmos que sua perna ou seu braço não estão mais ali. Sabiamente movimentam o coto, fazem massagem ou contraem a musculatura residual do coto como recurso para eliminação das sensações e do membro fantasma. Um simples contato manual já ajuda neste desconforto.
Nas situações reflexas, de se apoiar na perna ou tentar pegar algo que caiu ou na realização de um jogo, a sensação do membro fantasma pode voltar porque está na memória funcional ainda presente. Dando um exemplo: na quadra de esporte um amputado de membro inferior procura onde está seu outro pé de sapato. Para alguns, esta sensação permanece e, se não incomodar, pode facilitar a coordenação da marcha com a prótese, da marcha com o andador ou com as muletas canadenses, assim como no uso de uma prótese mioelétrica ou biônica de membros superiores.
Quando solicitamos que pense no membro perdido ao dar o passo, colocando “o calcanhar” no início da marcha com a prótese ou sem ela, “andar como se estivesse com a sua perna”, tem possibilitado um caminhar mais leve e coordenado. Dessa forma promove menor esforço físico e menor consumo energético para a locomoção. Pensar nos alcances e padrões manuais também favorece o mecanismo de acionamento dos eletrodos e a coordenação das próteses de membros superiores.

A INFLUÊNCIA DO FATOR EMOCIONAL NO PROCESSO DE REABILITAÇÃO.
Como dissemos no início, a dor tem uma memória e sofre grande influência do fator emocional como nos estados de depressão, ansiedade, etc. e pela proximidade das áreas cerebrais. Pesquisadores têm investigado o modo como estes estados alteram ou estimulam o retorno da dor fantasma. Nesta fase de luto, deve-se dar uma atenção especial ao tratamento.
Cabe a observação que ocorre um luto pela perda daquele segmento e nesta fase deve se ter uma atenção especial no tratamento. Tem sido também relacionado que em datas próximas ao evento do acidente ou da doença que levou a amputação com o aparecimento das sensações e de transtornos emocionais, com relatos dos amputados de sentirem novamente dor, câimbras, tristeza, depressão, mal estar e alteração da pressão arterial.
No nosso dia a dia de trabalho como terapeutas ocupacionais, é comum que no momento de receber a prótese, mesmo passando pelas provas na confecção e modelagem para a mesma, ainda não tenha sido superado o conflito da amputação e comumente há a lembrança do trauma novamente, acontecendo um novo luto.
O processo é longo para absorver a tecnologia assistiva, fazer as adaptações pessoais e para o ambiente que ajudarão na realização das atividades de vida diária e Instrumentais, produtivas e de lazer, incorporando a prótese ao seu cotidiano, para que ela faça parte dos seus movimentos e ações de maneira natural.
O conteúdo deste artigo foi cedido gentilmente pelo site passo firme http://passofirme.wordpress.com


Por Marilda Coelho Pires - Terapeuta Ocupacional, do Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (Into), e Simone Bastos, do Conselho Regional de Fisioterapia e Terapia Ocupacional.